sábado, 14 de agosto de 2010

Soluções em busca de um problema: Wordle

Sempre admirei descobertas inúteis, ou seja, soluções em busca de um problema. Quando os irmãos Lumière inventaram o cinema, ninguém sabia para que aquilo servia, tanto que as primeiras exibições ocorreram em parque de diversões e não em teatros.

Aquele experimento mental (Gedankenexperiment) do Einstein, onde ele imaginava o que aconteceria com o mundo para alguém que montasse num fóton (que resultou na primeira Teoria da Relatividade), também era inútil: não buscava uma vacina para o câncer e nem a descoberta da bomba atômica. Como se sabe, serviu para a bomba atômica, invenção bastante útil, embora para muito pouca gente e à custa da evoporação de um monte de outras gentes. Isso pode não me comover, uma vez que eu não estava lá, mas parece que foi bastante desagradável.

Juntando os dois exemplos, temos: se Einstein montasse num fóton recém saído de um projetor de cinema que estivesse passando Duro de Matar, teríamos duas soluções em busca de nenhum problema. Afinal, muita gente prefere uma bomba atômica a ter de assistir a Duro de Matar 18. A equação seria:

S1 X S2 = P X 0

Ou seja: o produto de duas soluções em busca de problemas resulta em nenhum problema.

A web (e a tecnologia atual) é pródiga em soluções em busca de seus problemas. Mais: são soluções que criam problemas. O Youtube, por exemplo, não foi inventado porque milhões de pessoas clamavam desesperadamente por um lugar onde pudessem exibir seus vídeos de bebês rindo. Não havia um sofrimento estabelecido à espera de uma solução. Não tenho notícia de passeatas, abaixo-assinados ou ONGs, todos exigindo: "Queremos mostrar nossos bebês rindo, já!".

Ok, chega de enrolação. Vamos ao assunto do post

Acabo de conhecer uma solução em busca de um problema: o Wordle (www.wordle.net). Foi no Fórum Internacional do Livro Digital, da CBL, na palestra do Jean Paul Jacob, um brasileiro que mora nos EUA e trabalha há décadas na IBM.

O brinquedo é sensacional. Trata-se de um site onde você coloca um texto qualquer, mesmo enorme, e ele faz uma "nuvem de palavras", com o mesmo mecanismo que faz nuvens de tags (tag clouds): quanto mais frequente a palavra (excluídos os conectivos e artigos), maior ela aparecerá na imagem final. Você pode controlar fontes, padrões de cores, layout etc. É tão divertido que é difícil achar uma utilidade.

Veja como fica o texto de Memórias Póstumas de Brás Cubas do Machado de Assis:


Compare com Iracema, do José de Alencar:



Pronto. Em duas imagens, a diferença entre o realismo e o romantismo brazucas. Qual desses livros você leria?

Agora, a instigante letra da canção "Leãozinho", de um conhecido compositor brasileiro que um dia foi considerado complexo:


Tente qualquer coisa. Pode pôr a constituição, uma bula de remédio, suas cartas de amor, a url de qualquer site com feed ou a letra "a".

Você vai ver que um programinha bobo é muito mais rápido e divertido do que críticos de literatura.

Ops. Acabei de achar a solução para um problema..
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