sábado, 30 de outubro de 2010

Somos todos caixas de banco felizes


É isso mesmo: cada vez que você digita os números do código de barras de um boleto, tarefa desgraçada que todos somos obrigados a cumprir, você se transforma no caixa de um banco. Feliz.

Já falei sobre os novos escravos felizes neste blog, aqui.

Sinto muito se houver leitores jovens, que pensam que BANCO é um site, e não uma FILA. Isso é o tipo de coisa que não me comove, uma vez que os jovens são no máximo um mal passageiro, embora necessário (ou seja, se não houvesse jovens, de onde viriam os velhos?).

O mais curioso é que, nas agências, as filas continuam iguais, mesmo com a web 2.0, mesmo em 2010.

Um parente meu, cujo nome não declino com medo de seus advogados e de seu psiquiatra, comprou três leitores de códigos de barras, dois dos quais repousam em seu armário de bagulhos. Disse ele: "O primeiro deu pau. O segundo não era compatível com o windows-x-ponto-qualquer-coisa. O terceiro estou usando, mas tem sérios problemas de interface". Ele queria facilitar seu próprio trabalho de pagar suas próprias contas.

É um caixa de banco falando! Pior: um caixa de banco sem sindicato, sem direitos e sem... salário!

Trabalha de graça para os bancos e compra seus próprios meios de produção. O que diria Karl Marx sobre isso? E Adam Smith?

É engraçado que, quando você cumpre sua tarefa direitinho, o bancos... COBRAM UMATAXA de você mesmo. Ou seja, você paga para trabalhar para eles e ainda desemprega sei lá quantos caixas de banco.

Não é sensacional? Foi mais ou menos o que aconteceu com os supermercados. Antigamente, precisando de um quilo de feijão, você ia a uma quitanda e pedia ao balconista: "Quero um quilo de feijão". Ele prontamente se dirigia ao saco de feijão, tirava de lá um tanto, pesava, corrigia a quantidade até ficar próximo de um quilo, entregava para você o feijão num saco de papel reciclável (essa palavra nem existia) e a transação estava "concluída com sucesso", mediante pagamento ou anotação numa caderneta.

Com o advento dos supermercados (o primeiro em São Paulo se chamava Peg&Pag, belíssima marca), o sistema mudou: o cliente é que faz o trabalho do balconista.

A única diferença entre sites de bancos e supermercados é de pudor: os supermercados não têm a cara-de-pau de cobrar uma taxa de você caso você tenha colocado no carrinho corretamente as coisas que você mesmo escolheu comprar. Não existe no final da compra uma linha no cupom fiscal assim: "VOCÊ PREENCHEU SEU CARRINHO COM SUCESSO. A TAXA É R$ 8,00". (Só espero que nenhum dono de supermercado leia este blog e ache que isso é uma boa ideia.)

Os sites de banco fazem isso: se você faz tudo certinho, cobram uma taxa. Se comete algum erro, a taxa não é cobrada.

O que aconteceu com o mundo? Alguém pode me explicar?