sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Em defesa dos marqueteiros




Está na moda, principalmente entre os comentaristas da mídia, satanizar os assessores de comunicação de políticos, apelidando-os genericamente de "marqueteiros", como se isso fosse um palavrão.

Quando bem sucedidos, são considerados gênios, ora do mal ou ora do bem, conforme a inclinação do jornalista, e acusados dos seguintes pecados: 1) fazem o candidato parecer ser o santo que não é; 2) fazem o adversário parecer ser o demônio que não é; 3) ou vice-versa. Em qualquer dos casos são embusteiros que ajudam os políticos a enganar eleitores, esses pobrezinhos desinformados.

Vejamos um caso recente. O comentarista Josias de Souza, em seu blog, horroriza-se com as eleições atuais, que segundo ele passarão para a história como o ano em que "a política ingressou de vez na Idade Mídia, tornando-se um mero ramo da publicidade". O motivo seriam as maquinações maquiavélicas do jornalista João Santana, do PT, contra a "pobre" Marina e o "pobre" Aécio, a favor da "poderosa" Dilma.

Nas palavras dele:

"O Datafolha mais recente, divulgado na noite desta segunda-feira (20), reforça a sensação de que o principal fenômeno político da atual sucessão presidencial tem sido, até o momento, o triunfo da ideologia da desconstrução. Depois de triturar Marina Silva, expurgando-a do segundo turno, a usina de demolição em que se converteu o comitê de Dilma Rousseff passa no moedor a imagem de Aécio Neves."

O caso Marina


Ora, é óbvio que Marina Doida da Silva triturou a si própria. Ou foi o João Santana que mudou o programa de sua sigla de aluguel na parte sobre os LGBTs depois de três tuitadas de um pastor de merda? Foi o João Santana que exigiu que o Aécio prometesse não se reeleger e depois desexigiu? Foio marqueteiro que exigiu um "aceno" para o MST e depois esqueceu? Foi o João Santana que chamou o Aécio de velha política e de repente passou a considerá-lo "nova política" em troca de alguns vagos adjetivos incluídos no programa? Foi o assessor do PT quem articulou a aliança com o agronegócio via o vice da Marina?

O caso Aécio


Daí tem o Aécio. Foi o João Santana quem construiu o aeroporto de Cláudio? Quem recusou-se a se submeter ao bafômetro? Foi o João Santana quem promoveu baladas à la Collor de Mello? Quem fez as merdas em Minas, que resultaram na derrota do partido do Aécio no seu Estado tão "perfeito"? Quem fez as privatizações mais criminosas da história? Foi ele quem inventou o sistema mensalão, em Minas?
Josias de Souza acha que isso é "demolir a imagem de Aécio Neves" e que isso é uma novidade em política.

O caso Dilma


Agora vamos à Dilma: por acaso foram os marqueteiros do PSDB que organizaram o mensalão do PT? Foram eles quem fizeram a lambança na Petrobras (que foi citada umas mil vezes pelo Aécio)? Não foram. Quem fez as cagadas foi o PT. A diferença é que, com exceção do escândalo da Petrobrás (baseado na reportagem da Veja, por sua vez baseada numa delação premiada), todo o resto citado aqui foi fartamente documentado. Pessoalmente, acredito que toda a lama da Petrobras será comprovada, embora ainda não tenha sido, mas tanto faz.

O que me importa neste texto é o seguinte: assessores de comunicação não criam fatos. Apenas organizam discursos.

Só isso, nada mais. Quem "desconstrói" biografias é o próprio biografado.

E isso é mais velho que a fome. No tempo dos gregos se chamava Retórica.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O VOTO INÚTIL - teoria e prática






Quando eu era bem jovem, havia dois partidos, ambos criados pela ditadura: a Arena (que virou PDS e depois DEM etc) e MDB (que virou PMDB etc). As tendências de esquerda da USP, com exceção daquela da qual eu fazia parte, mandavam a gente votar nos candidatos do MDB. Era o chamado "voto útill", ou seja, vamos votar no menos pior.

Nunca votei no MDB. Nunca elegi nenhum governador, nenhum presidente. Nunca votei "útil". Votei no PT até o PT divulgar a Carta aos Brasileiros, quando ele se igualou ao PSDB, com a imensa vantagem de ser popular, ao contrário dos coxinhas arrogantes de Higienópolis (bairro de São Paulo cujo nome tem como origem "higienização", podem pesquisar).

A prática da teoria do voto inútil é simples: faça o que quiser: vote na Dilma, no Aécio, em branco, nulo, nem vá. Tudo isso será absolutamente inútil para você, eleitor. O bolsa-família será mantido, o superlucro dos bancos e das corporações será mantido, você continuará fodido, se não for superpobre ou super-rico. Ponto.

Sabe por quê? É porque o Brasil não está dividido coisíssima nenhuma. Poucas vezes na história territórios, culturas ou crenças estiveram realmente cindidas, divididas. Pensem nos últimos dez mil anos. Quantas vezes realmente ideias diferentes de como lidar com a natureza, as riquezas e os seres humanos estavam em jogo? Poucas. Agora pensem nas diferenças entre PT, PSDB, PS(D)B etc. Bullshit. Recentemente aconteceu na Rússia em 1917 e olhe lá e olha só no que deu: numa machadada na cabeça do Trótski.

Alguém imagina o Aécio, de posse de uma lâmina, procurando a cabeça da Dilma? Não. Vai procurar uma superfície de vidro pra fazer coisa melhor com a lâmina.

A teoria é um pouco mais complexa e eu não tenho a competente complexidade para explicar, mas sei que o voto obrigatório é uma aberração evolutiva. Cito Darwin porque ele é um dos dos quatro grandes gênios dos últimos 200 anos (ele e mais o Marx, o Freud e o Einstein, os quatro que tiraram o estúpido ser humano do centro do mundo) e porque não consigo imaginar uma função para o voto obrigatório nem nas formigas.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Os coxinhas e a coxinha




Meninos, eu ouvi. Juro.

Estava uma vez andando de carro e ouvi no rádio uma entrevista do José Serra, então candidato a presidente, numa caminhada pelas ruas de São Paulo. Alguém oferece a ele uma coxinha, ele recusa.

O repórter: "Não vai comer a coxinha, governador?"

Ele: "De jeito nenhum. Não sei o que tem dentro disso aí. Aliás, se dependesse de mim, eu proibia as coxinhas".

Obviamente, Serra perdeu as eleições, porque sua conhecida hipocondria e aderência a Higienópolis são mais fortes do que ele. Como um sujeito quer ser presidente do Brasil prometendo proibir uma instituição nacional, a coxinha? Jânio Quadros tentou proibir o biquíni. Não completou o mandato.

Fiquei imaginando o Lula na mesma situação. Comeria a coxinha com gosto, lambendo os beiços. Falaria com sua língua plesa: "Comi muita cofinha quando era metalúrgico. As cofinha deste país alimentáru muitos brasilêiru". Lula ganhou e comemorou com uma garrafa de Romanée-Conti. Não consta que foram servidas coxinhas no tal jantar.

A foto, publicada faz pouco tempo na Folha, me fez lembrar da reportagem do rádio de anos atrás.

Em jornalismo, toda foto é uma charge.