quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Sobre fardas e batinas: Fidel e Dom Paulo, descansem em paz e não me aborreçam mais


Nunca gostei de gente que usa fardas e batinas, vivos ou mortos, de "direita" ou de "esquerda", "reacionários" ou "progressistas". O hábito faz os monges, comandantes e cardeais. Ah, quase esqueço daquele judeu de solidéu que foi pego roubando gravatas em Nova Iorque, o rabino Sobel, que aliás estava na missa do Vladimir Herzog.

Fidel Castro, por exemplo, está entre os fardados "revolucionários". Não tirava aquela farda nem para tomar banho, muito menos para discursar por 350 minutos em média. Devia ser a mesma farda que usou em Sierra Maestra, quando deu um pontapé sensacional no idiota Fulgencio Batista, um sujeito que conseguia ser mais corrupto do que o nosso Cunha.

O que Fidel fez com a ilha? Octavio Paz resumiu tudo: "transformou Cuba de um bordel americano em um quartel soviético".

Mas a bola da vez é o Paulo Evaristo Arns, muitíssimo mais unânime do que Fidel, pelo menos no Facebook e na tevê. Sabemos o que Nelson Rodrigues nos ensinou sobre unanimidades ("toda unanimidade é burra") mas caso é que Dom Paulo em si não tinha nada de burro.

Era um espertalhão. Passou para a história como um corajoso e inteligente combatente da ditadura. Não deu tanta bandeira e não foi tão nefasto quanto sua coleguinha madre Teresa de Calcutá, prestes a virar santa quando na verdade era um demônio encarnado (basta dar um google e ver o que ela fazia com o dinheiro que arrecadava e com as criancinhas que "salvava"). A verdade é que dom Paulo mais atrasou do que promoveu a queda da ditadura.


Recontando a história


Nos anos 70, me lembro pessoalmente, criticar o stalinista Fidel Castro com argumentos à esquerda era considerado um crime pelo pessoal de esquerda. Quem fizesse isso era imediatamente confundido com os americanos, com a direita etc.

O mesmo acontecia com Dom Paulo e a sua igreja "progressista".

Dom Paulo era o principal chefe dessa ala progressista da igreja no Brasil e usava o seguinte truque:

1. Quanto mais alto Dom Paulo subisse na hierarquia católica, mais imune ficaria a uma possível prisão, pois prender um chefão da igreja católica significaria comprar briga com o Vaticano.

2. Ao mesmo tempo, ele deveria fazer coisas inócuas, pois assim os militares não teriam sequer motivo (perante o Vaticano) para atacá-lo ou à sua turma.

3. Em meados dos anos 1970, a ditadura dava sinais de que em breve cairia e Dom Paulo e a igreja seriam alçados como co-responsáveis pela sua queda sem correr grandes riscos.

Uma outra parte da igreja, os frades dominicanos, foi mais ousada. Defendeu guerrilheiros, teve membros presos e torturados. O que seus frades passaram nas mãos de torturadores brasileiros fazem o "calvário" do imaginário Jesus parecer uma sessão de cócegas. Dizem (nunca saberemos ao certo) que foi um deles quem delatou sob tortura o local onde Mariguela teria aquele encontro na alameda Santos que resultou em seu assassinato. Um desses dominicanos se matou em Paris.

Dom Paulo "apoiou" seus irmãos dominicanos, mas de forma bastante tímida. Jamais pôs em risco sua integridade física como os dominicanos fizeram com os militantes presos que defendiam. Aparentemente, os dominicanos leram uma edição do Novo Testamento muito diferente da lida por Dom Paulo. Ah, essas editoras...

Fato é que os dominicanos não tinham uma figura proeminente e dócil como Dom Paulo. Portanto, pau neles. E não foi pouco. As torturas foram sórdidas como sempre.

Mas quais eram as coisas "inócuas" promovidas pela turma de Dom Paulo? Eram umas coisas chamadas Comunidades Eclesiais de Base. Esse nome era de fachada. Na verdade, eram grupos feitos na periferia para atrair jovens católicos e montar peças de teatro com conteúdo "crítico". Eram uma união secreta entre a igreja progressista de Dom Paulo e o ultra-stalinista PCdoB, então devoto de Mao Tsé Tung.

Um exemplo dessas peças era uma que se intitulava "Um Pãozinho e Duas Laranjas" porque este era o conteúdo da ração que se dava aos trabalhadores que estavam construindo a rodovia dos Imigrantes. Na cena mais forte, a menina olha para um berço e pergunta: "Mamãe, por que o bebê tá roxinho?". Na cabeça dessa gente, ao saber que alimentavam mal os trabalhadores da Imigrantes, o povo da periferia concluiria, por osmose, que a revolução etc etc. Me poupem.

Mas, como as comunidades se chamavam Eclesiais, tinha de ter uma reza aqui outra acolá. Uma mistureba mais indigesta do que um pãozinho e duas laranjas.

Dom Paulo, verdade seja dita, fez outras coisas não tão estúpidas quanto peças de teatro ridículas nas periferias. Cedia espaços bilionários da igreja sem cobrar aluguel para eventos progressistas, sendo o mais famoso deles a missa ecumênica quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado. Cedeu o teatro da PUC para um encontro da SBPC, que a ditadura queria que não ocorresse, entre outras coisas. Enfim, deu uma arriscadinha aqui outra acolá.

Mas vasculhem sua biografia sobre temas da própria igreja católica: quantas vidas ela ceifou ao longo dos séculos? Por quais motivos? Como ela considera as mulheres até hoje?

Não encontrarão nadica de nada. Aquela sua voz macia e trêmula nunca me enganou.

Dom Paulo Evaristo Arns é apenas mais uma farsa criada pela ditadura militar.