sábado, 14 de janeiro de 2017

O bode na própria sala




Quando o ministro das Comunicações e mais-sei-lá-quê Gilberto Kassab anunciou e depois desanunciou o limite de acesso para a banda larga, fiquei com algumas pulgas atrás da orelha: quem era o bode e de quem era a sala? Enfim, a quem ele quis enganar com essa manobra? Nós, usuários e eleitores?

Acho que não. Acho que os políticos brasileiros estão desenvolvendo uma nova modalidade de bode-na-sala: o bode na própria sala. São tão abjetos que, com essa manobra, querem enganar seus donos, não seus eleitores.

Funciona assim (senta que lá vem teoria conspiratória):

1. Os donos (as teles, no caso) mandam uma ordem ao ministro: "Decreta ai um limite para a banda larga, inventa um "excesso" que não existia e nos deixe cobrar por esse novo excesso. Precisamos, queremos desesperadamente ganhar mais dinheiro sem fazer nenhum esforço extra. Faz parte da nossa natureza e é para isso que pusemos você aí".

2. O ministro engole em seco. Está numa enrascada. Sabe que vai levar paulada do segundo país com maior número de usuários da web do mundo. Que vai ser vítima de uma campanha não viral, mas virulenta. Engole em seco mas diz aos seus donos: "Sim sinhô".

3. E aí tem uma ideia genial. E se ele, em vez de simplesmente assinar a portaria e colocar a coisa em vigor, tratasse de anunciá-la?

4. Foi o que fez. Colocou a cara para bater e levou porrada de tudo quanto é lado. Então, com a cara sangrando e os primeiros hematomas, foi à casa do seus donos e argumentou: "Vejam só, vejam como eu apanhei. Acho que não vai dar certo... Que tal voltar atrás? Fico com a fama de covarde, indeciso, mas logo esquecem. E vocês nem tchum; afinal, as porradas levei eu".

Nenhum ministro é obrigado a "anunciar" medida nenhuma. Se estiver em suas atribuições, vai lá, assina e a coisa entra em vigor.

Quem anuncia quer testar. E quem quer testar quer colocar o holograma de um bode na sala, não um bode de verdade.


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