sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O príncipe dos psicopatas



Todos que fizeram ou tentaram fazer qualquer negócio com João Doria Júnior se deram muito mal. Desta vez, quem se dará mal são os paulistanos, que escolheram fazer o péssimo negócio de o elegerem.

Ao contrário do estado, a cidade de São Paulo tem um eleitorado nervoso, que raramente reelege prefeitos. O último que ficou mais de quatro anos foi Prestes Maia, fora Kassab, que era vice. Ingovernável e de problemas insolúveis, São Paulo gosta de mudar, mudar e mudar.

Seus prefeitos adotam sempre medidas anódinas ou laterais, que não atacam os principais inimigos da cidade: a máfia do transporte e a máfia do lixo. Um tira outdoors, outro pinta ciclovias. Por aqui, nas redondezas, o último prefeito que tentou se meter com a máfia do transporte levou um tiro na testa: Celso Daniel.

Doria ou tem compulsão pelo roubo, como aquelas pessoas que roubam até a própria faxineira, ou é um embusteiro consciente e incorrigível. Discutindo com uma amiga, defendi a primeira hipótese, a da cleptomania. Trata-se de uma afecção clínica, não de caráter.

Doria já foi prefeito de um pedacinho de São Paulo, a praça Claudio Abramo, em frente à sua empresa na época. Roubou o espaço público, instalando lá, sem nenhuma autorização, uma escultura de sua mulher, Bia Doria, como se ela fosse uma escultora que tivesse obras públicas. O caso está aqui.

Imaginem o que fará com uma cidade inteira à sua disposição.

Na hipótese de doença incontrolável, ele não conseguirá resistir. Na outra hipótese – falta de caráter – também não resistiria.

Empreendedor da própria imagem


Doria nunca fabricou um único palito de fósforos ou um único evento de natureza cultural ou educativo. Produziu eventos, revistas e programas de televisão com o claro objetivo de bajular empresários e gente de quem pretendia bater a carteira de alguma forma.

Agora ele tem nas mãos o quarto maior orçamento do país e governa a maior cidade do hemisfério sul do planeta. É fácil imaginar o que fará. Com 15 dias de governo, anunciou que vai roubar o leite das crianças do ensino fundamental.

Ao tomar posse, citou no discurso seu livro de cabeceira, escrito pelo Maquiavel moderno e considerado "a bíblia dos psicopatas". O livro se chama As 48 Leis do Poder, de Robert Greene. Um belo artigo de Eliane Brum a respeito foi publicado no El Pais. Está aqui.

Fez isso sem corar.

Doria foi eleito democraticamente. Lógico que deu uma roubadinha "básica" nos gastos de campanha interna do partido para ser candidato, o que fez o tucano há 20 anos Andrea Matarazzo sair indignado do partido, mas isso o povo do PSDB que se entenda e os paulistanos que o mereçam.

Uma vez, fiz uma reunião com João Doria porque a editora onde eu trabalhava faria um evento em Campos do Jordão. Avisei nossa diretora de Publicidade sobre os riscos, não adiantou nada. Ela estava hipnotizada pelo canto de sereia de João Doria Júnior.

Saí da reunião sem fechar nenhum negócio. Esperando o táxi, conferi minha carteira, estava no bolso.

Respirei aliviado.

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